quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Sabe a história do bonitinho, mas ordinário?


Hoje foi o primeiro dia de uma viagem que estou fazendo sozinha (só para lembrar, me propus a isto quando defini minhas “missões” por aqui). Indo para um lugar que é unanimidade no quesito beleza, com muito contato com a natureza e com gente desconhecida, de todas as partes do mundo.

É engraçado que quando digo para as pessoas (desde a minha mãe até a mocinha da agência de viagens) que vou viajar sozinha, desperta quase uma comoção. Posso ver (ou imaginar) as sobrancelhas da pessoa se levantando, a cabeça tombando para o lado e um sonoro ohhhhh, como quem diz, coitadinha... E realmente acho esse comportamento no mínimo divertido.

É um comportamento humano, primitivo, quase bonitinho. Mas sabe a história do bonitinho mas ordinário? Pois é...
Bonitinho porque remete ao cuidado (na maioria das vezes), à compaixão (que se bem usada pode ajudar bastante), à empatia (que para mim é uma arte).
E ordinário porque nos aprisiona na necessidade externa (que se transforma logo em interna) de que a gente não é completo sozinho! E acredito que essa “necessidade” pode ser a causa de muitos “suicídios emocionais” que a gente comete pela vida, em todos os tipos de relações.

Viajar com uma amiga querida colocando o papo em dia; com o nosso amor aproveitando as delícias do lugar; com a família revivendo memórias e construindo tantas outras são pequenos momentos de felicidade, momentos que se eternizam na nossa memória (já que agora a gente não revela foto mais).
Mas viajar sozinho tem muitas preciosidades também...

Quando a gente viaja sozinho a gente está mais aberto; mais aventureiro; mais corajoso! A gente não se incomoda em falar com desconhecidos; não se preocupa em ter que ocupar papéis (muitas vezes por mera formalidade); pode ser mais um no meio da multidão, sem problema algum.
A gente é o que é. A gente é o que deveria ser. A gente é livre!

E por estar sozinha e mais aberta, pude conhecer uma japonesa que me deu o primeiro (espero de muitos) presentes desta viagem.
Quando contei para ela que era brasileira, ela perdeu toda a timidez típica dos japoneses e se empolgou de uma forma que eu não poderia nunca prever. Sorria, batia palmas e dizia que amava (sim ela disse amava) os brasileiros e o Brasil (sem nem mesmo conhecer ainda). E isso fez passar um filme na minha cabeça, que me trouxe um momento de felicidade, que dá aquele calorzinho no peito sabe?

Me lembrei de quantas vezes durante estes 3 meses eu, como brasileira, fui recebida com tanto carinho, com alegria, com brilho no olho. Foram muitas, tantas que perdi a conta.
Canadenses, Europeus, Asiáticos, os vizinhos da América do Sul. Colegas de sala, professores, gente que eu conhecia numa festa, num bar. Gente que pedia para eu mostrar no mapa porque não sabia muito bem onde ficava, que tamanho era o Brasil e gente que já teve a experiência de passar por lá, seja por um período curto de ferias, seja para morar. Gente apaixonada pelo brasileiro!

Sempre que eu posso pergunto o que o brasileiro tem de especial e as respostas me fazem lembrar e relembrar tudo que a gente tem de lindo, apesar de qualquer coisa de ruim que a gente possa pensar! E o de mais belo que a gente tem é a nossa liberdade...
A liberdade de sorrir para qualquer um, na rua, no elevador, na fila do pão. A liberdade de dar dois beijos (ou um ou três) logo que conhece alguém. A liberdade de carregar a bolsa de alguém no ônibus. A liberdade de colocar uma pitada de alegria por onde quer que a gente viaje. A liberdade de tentar ser leve, mesmo diante de grandes problemas...

E depois de comer mashmallows assados na fogueira e combinar com um grupo de Taiwaneses que vou ensiná-los a dançar samba, a noite termina com muitas risadas num quarto dividido com três, até então desconhecidas.
Porque a gente é livre e a vida é assim, feita destas pequenas delícias!



Ps: A viagem foi para as Rocky Mountains!



segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Pior que ficar em cima do muro é cair dele!


Aqui no ‘Let it be Lili’ quando eu contei um pouco sobre mim, escrevi o seguinte: “por aqui teremos começo, meio e fim tá bem!? Até agosto estaremos juntos, refletindo bastante, de forma leve e divertida. E quem sabe na próxima viagem (que já tem data e destino) continuamos esse papo... Mas isso vou decidir depois, porque a vida acontece e é impermanente, lembra!?
E porque a vida acontece, é impermanente e a gente quebra o pé, a próxima viagem que já tinha data, destino e parceira (Sol, eu disse que você ia aparecer no Blog), precisou ser adiada, não sei bem pra quando, porque eu vou precisar bastante do meu pezinho para andar os mais de 800km do Caminho de Santiago de Compostela.

Pois bem, eu poderia ficar me lamentando, arrasada porque já tinha projetos relacionados a esta viagem, muito p... da vida porque é provável que eu só possa ir no próximo ano, porque eu já tinha me organizado, já tinha planos e blá, blá, blá... mas eu não estou não, porque se tem uma coisa que aprendi é que lutar contra a realidade é luta perdida. É gastar energia vital para mudar algo que já é fato, muitas vezes já é até passado. Já era, já foi, já aconteceu. Aceita que dói menos!

E como a gente gasta energia tentando fazer milagres...
É um trabalho que a gente não gosta, não vê propósito, não tem futuro.
É um relacionamento que já não existe há tempos, não tem amor, parceria, conexão.
É um amigo (ou não!) que sempre “pisa na bola”, não respeita a amizade, é egoísta. É um estilo de vida que não dá o retorno que a gente precisa, que a gente quer. Já não funciona mais.
Porque vamos combinar né, tem coisas que só milagre mesmo...

Vamos aos fatos: o pé está quebrado; mais uma ou duas semanas de bota; não vai mais rolar o Caminho (pelo menos por agora); meu intercâmbio planejado está chegando ao fim.
O que fazer? Tem um mundo de possibilidades, literalmente!
E ter muitas opções pode ser bom ou ruim, depende de como a gente lida com o medo. Medo de que? Medo de decidir por um caminho e dar com os burros n’água.

O medo é uma emoção primária, isso quer dizer que a gente já nasce com ele e que vai ter que conviver com ele a vida toda, da melhor maneira possível...
É claro que uns convivem melhor, outros sofrem um pouquinho mais, mas a verdade é que o medo pode paralisar sim, principalmente quando a gente precisa tomar alguma decisão.
E todo mundo já sofreu ou vai sofrer desse mal. Uma, duas, trinta, cem vezes...
Pode ser a pessoa mais “safa”, mais sagaz, mais forte e inteligente, vai ter um momento que ele vai chegar, sem bater na porta e a gente vai desejar não precisar decidir nem a cor do esmalte que vai passar (escolhe aí Neidoca, eu confio em você).

Porque ficar “em cima do muro” pode ser muito bom, mas exige equilíbrio.
A gente acha que não, mas também estamos gastando energia (muita, na maioria dos casos) mantendo as coisas como elas estão, quando já deveriam mudar.  Porque não escolher um lado, também é uma escolha.

E algumas vezes, mesmo com o vento soprando forte, gritando no nosso ouvido que o fluir da vida já tem outra direção, a gente está lá agarrado, se equilibrando... Mas tem uma hora, sempre tem essa hora, que o vento é mais forte que tudo e ele vai te “arremessar” para um lado e aí nessa hora a gente entende (ou pelo menos deveria) que pior que ficar em cima do muro é cair dele.

E como não estou podendo cair por aí porque minha cota de osso quebrado já está cumprida, preferi escolher logo o melhor lado para mim neste momento (fico mais um pouquinho por aqui) e me preparar para ele sem perder o presente tentando mudar o passado e usando minha energia para construir meu futuro.


Se cuida e Let it be!



sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Será que a grama do vizinho é mais verde mesmo?


Quem vive no Rio de Janeiro já está respirando esta atmosfera de Jogos Olímpicos há um bom tempo, principalmente a parte chata e incômoda (mas necessária) das obras. É aquela história de que todo mundo adora uma casinha reformada, novinha, bem decorada, mas estar ali “comendo poeira” todo dia enquanto a reforma acontece, não é mole não.

Mas mesmo “comendo poeira” eu ficava feliz quando via as obras tomando forma; triste quando ouvia histórias de atrasos, problemas e riscos de descumprimento de prazos e muito animada quando me candidatei para ser voluntária nos jogos. Sabia que seria uma grande festa!

E porque a vida acontece e a gente não tem o controle de tudo (e eu não gosto muito disso, bato no peito e confesso, porque sou uma controladora em tratamento), esta viagem acabou esbarrando no período dos Jogos Olímpicos e estou acompanhando a festa de longe (#invejabrancadequemestala).

Pois bem… Tem quem gosta, quem odeia. Tem quem mete o pau e tem quem elogia. Têm os mais sensatos, os reflexivos e têm aqueles que misturam lé com cré. Tem de “um tudo” minha gente e eu bem queria estar lá no “olho do furacão”, mas não estou e como tudo, isto também tem um lado bom.
E o bom é poder olhar de fora, um olhar estrangeiro, forasteiro. Um olhar justo, crítico, mas ao mesmo tempo generoso e sem ranço. Um olhar (quase) isento!

Por aqui estamos em pleno verão!
Sol, camiseta, praia, pernocas de fora, biquini e sunga tirados do fundo do armário. Luz do sol até nove da noite, muitos sorrisos pela rua e leveza no ar…
Pode parecer pouco, pra gente que tem isto o ano todo, mas é muito, muito importante para quem convive com o frio ¾ do ano.

É uma época linda! Cinema ao ar livre; eventos de música; picnic no parque… Todos que estavam hibernando acordam, inclusive os sonhos, os planos, a esperança. 
As pessoas sorriem mais, se encontram mais, se alegram com muito menos. É a vitamina D em ação!

Tenho escutado muito uma frase-conselho (principalmente de brasileiros e uns que nem conhecem o Canadá) “Mas porque você vai voltar? Ah, se eu fosse você ficava…” E geralmente tenho respondido esta pergunta com outra: “Por que eu deveria ficar?”

O objetivo aqui não é entrar na seara politica, econômica ou educacional. Não é comparar Brasil e Canadá; Rio de Janeiro e Vancouver; São Paulo e Toronto. Muito menos elucubrar como seriam os Jogos Olímpicos na Suíça ao invés de no Brasil.
O objetivo aqui é dizer que nem sempre a grama do vizinho é tão mais verde quanto parece. E que muitas vezes no jardim alheio tem lindas rosas colombianas vermelhas, mas que no seu tem flores miúdas de dama da noite que perfumam todo a vizinhança.

Temos o hábito pouco saudável de achar que tudo relacionado ao outro é sempre melhor! E parte das reflexões que tenho lido sobre os Jogos Olímpicos me fazem ter ainda mais certeza disso…
O namorado da fulana é tão carinhoso, lindo, educado e apaixonado…
O beltrano tem o trabalho dos sonhos. Ganha uma grana e ainda viaja bastante…
Olha a ciclana…tem tantos amigos, sempre saindo, se divertindo e ainda é linda e sarada…E com isso entramos num ciclo vicioso de comparação, tortura e sofrimento sem fim…

Porque é muito bonito assistir um “espetáculo” sentado na platéia, sem ter a menor noção do que está acontecendo nos bastidores.
Porque tudo depende do ponto de vista, do ângulo, da perspectiva e do “peso” que a gente quer dar para cada coisa.

Há uns dias atrás o Facebook me trouxe a memória de algo que postei em 2010 e que agora pego emprestado novamente porque serve muito bem para este texto, para o nosso momento Olimpiadas: “…um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou tv. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor…Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto.”


Tá lindo sim e mesmo daqui de longe eu estou sentindo o cheiro da dama da noite no ar!


PS: Créditos do trecho citado: Mar sem Fim, de Amyr Klink.


Se cuida e Let it be!




sábado, 6 de agosto de 2016

O que um pé quebrado pode te ensinar!


Eu gosto muito de ler, de ouvir, de pesquisar sobre temas que me interessam, que me “colocam pra pensar”...
Sabe aquele assunto que joga por terra todas as nossas certezas? Que abre um mundo de possibilidades? Que faz a gente mudar nosso ângulo, nossa percepção, nosso pensamento em180 graus? Então, gosto destes temas...
Gosto, não porque gosto de polêmica, sou até bem conciliadora e acredito também que determinados assuntos não dão muita margem pra polêmica, pra discussão. É aquela história que quando alguém (que sabe) fala, só tem espaço para o silêncio e o cheiro de fosfato no ar.

Um dos meus “queridinhos” é a impermanência!
Cada livro ou texto que leio, cada vídeo que vejo ou aula que assisto fico ainda mais apaixonada pelo tema e pela importância que acredito que ele tenha em nossa evolução na vida.
Sei também que um dos motivos da minha “paixonite” pelo tema impermanência é que ele coloca à prova todo tempo, a necessidade/possibilidade de ter controle, que é uma característica bem minha. Parece até que tenho uma veia sadomasoquista, gostando de coisas que podem me “machucar”, mas na verdade acredito que tem momentos que é bem bom olhar as nossas mazelas olho no olho.

Mais que ler, ouvir e pesquisar o melhor mesmo é vivenciar, experenciar... Aí a gente vê se a coisa funciona mesmo, ou se é só balela, só script bonito.
E como por aqui a ideia foi desde o começo viver a vida como ela é, ser local, resolvi quebrar o pé essa semana para testar alguns conceitos (gosto um pouco de humor negro também).

Pois é, eu fui daquelas que morria de vontade de quebrar o mindinho que fosse, pra colocar gesso e os amigos escreverem lindas declarações. Não rolou...
Mas não tem jeito, tudo que a gente quer a gente recebe, pode demorar 20 anos, mas chega.
Chegou de forma mais moderna, em formato de ‘boot cast’, mas não faltou o carinho dos amigos da escola.

E esse pé quebrado me fez relembrar e viver muito a máxima da impermanência de que a única certeza que a gente tem é de que as coisas vão mudar e não adianta espernear!
Independente da sua vontade, do seu esforço, da sua fé. A coisa pode estar muito boa, morna ou uma merda, vai mudar, tenha certeza disso!
Pode estar tudo milimetricamente pensado e planejado mas sinto informar, nada é permanente!
Tudo muda o tempo todo e isso pode ser bom ou ruim, vai depender do lado que você vai escolher estar.

A gente muda, o outro muda, a vida muda!
Sentimentos se transformam, pessoas vão e vem, a maré sobe e desce, a lua cresce e mingua...
A gente gostava de Menudos (ou qualquer outra variação), achava que nunca mais iria se recuperar daquele “pé na bunda” ou que nunca ia gostar de comida japonesa.
A gente muda, o outro muda, a vida muda!

Se as coisas já mudam de forma natural, pelo próprio fluir da vida, imagina quando se tem um terreno fértil como o de uma viagem, um intercâmbio, uma porta aberta para o mundo! A impermanência passa por cima como um rolo compressor!

E eu que tenho aqui um dia com 16 horas de luz, escola, trabalho, muitos amigos e uma agenda digna de um verão intenso, tive que mudar, tive que me adaptar, porque nada é permanente! Porque numa hora, num minuto, num segundo a gente quebra o pé, quebra a cara, quebra o coração. A gente muda, querendo ou não!

Tenho visto muitas certezas serem trituradas; muitas frases de efeito perderem o poder. O “sempre” e o “nunca virarem um “talvez” ou no mínimo uma pulguinha atrás da orelha materializado num “será”?

Porque é assim que as coisas mudam! É assim também que a gente evolui! É aceitando o momento presente, com tudo de bom e de não tão bom assim que ele pode trazer.


Se cuida e Let it be!